18 Junho 2022
“As emoções podem desempenhar um papel positivo na luta contra o aquecimento global. A emoção é um motor fundamental de mudança dos nossos hábitos e comportamentos”. A reflexão é de Delphine Pouchain e Emmanuel Petit, em artigo publicado por The Conversation, 15-06-2022. A tradução é do Cepat.
Delphine Pouchain é mestre de conferências em Ciências Econômicas na Sciences Po Lille e Emmanuel Petit, professor de Ciências Econômicas na Universidade de Bordeaux.
Em 2021, um artigo publicado na Lancet revelou que de 10.000 jovens de 16 a 25 anos entrevistados em dez países, metade declarou que a mudança climática os deixou tristes, ansiosos, indignados, impotentes e culpados.
Quase metade considerou seus sentimentos sobre as mudanças climáticas afetam negativamente sua vida cotidiana, e muitos relataram pensamentos negativos diretamente relacionados ao estado do planeta. Essas emoções, e especialmente a indignação, estão fortemente correlacionadas com a ideia de que os governos não estão à altura do desafio das questões ambientais atuais; o que é então acompanhado por um sentimento de traição e abandono.
Esse sentimento em si é um gerador de indignação, como mostra o exemplo bem conhecido da Greta Thunberg.
A jovem ativista sueca é frequentemente apresentada como a musa da luta contra o aquecimento global. Ao mesmo tempo, ela cristaliza as críticas, principalmente porque ela demonstrava demais suas emoções. Ela também é criticada por tentar despertar as emoções de seu público através de fórmulas que provocam o choque.
Entre as emoções que ela parece sentir fortemente, e que tenta comunicar, encontramos inevitavelmente a indignação, emoção que ela partilha com os jovens do estudo acima referido.
A mídia às vezes a apresentou como o símbolo da indignação de uma geração inteira. Quando ela diz, por exemplo: “Como vocês ainda ousam não enfrentar esta realidade?”, durante uma intervenção na plenária das Nações Unidas em setembro de 2019, é uma indignação fria e argumentada que ela expressa.
É também toda a sua indignação que sentimos nestas palavras: “Vocês nos decepcionaram. […] E se vocês decidirem nos decepcionar, eu lhes digo: nós nunca vamos perdoá-los!”.
Greta Thunberg ilustra esse potencial que a indignação tem de se transformar em ação. Ela consegue, em sua escala, colocar as emoções a serviço da ação pelo clima. Um estudo recente mostra até um verdadeiro “efeito Greta Thunberg”.
Para além deste exemplo emblemático, vemos que as emoções podem desempenhar um papel positivo na luta contra o aquecimento global. A emoção é, como nossos trabalhos anteriores mostraram, um motor fundamental de mudança dos nossos hábitos e comportamentos. Hoje, parece que temos todas as informações necessárias sobre as mudanças climáticas, sem que haja qualquer relação entre o conhecimento disponível aos indivíduos e a mudança de seus comportamentos.
A questão que surge com toda legitimidade é, portanto, saber se as emoções, e especialmente a indignação, podem promover mais a ação diante das mudanças climáticas. As relações entre emoções e aquecimento global aparecem cada vez mais evidentes e são cada vez mais estudadas.
Os próprios cientistas são cada vez mais encorajados a deixar aflorar suas emoções.
Recentemente, também destacamos na revista Science et émotion o papel fundamental e subestimado das emoções na prática diária da pesquisa.
Se os efeitos do aquecimento global sobre a ansiedade estão bem documentados, esse é menos o caso de emoções como a indignação, que podem, no entanto, ser usadas na luta contra o aquecimento global. Muitos estudos mostram que a indignação pode levar a mudanças concretas e duradouras de comportamento, de forma mais favorável ao clima e ao meio ambiente.
As Conversations Carbone, criadas em 2006, são um exemplo concreto de conversão das emoções, entre elas a indignação, em ações concretas e eficazes. O método foi criado e desenvolvido pela psicoterapeuta Rosemary Randall e o engenheiro Andy Brown.
Nessas Conversations, que acontecem em pequenos grupos de seis a oito pessoas, os participantes são convidados a dar asas às suas emoções face às alterações climáticas e a refletirem juntas sobre as soluções aplicáveis no seu cotidiano. O objetivo é reduzir pela metade a pegada de carbono dos participantes em um período de 4 a 5 anos, sabendo que foi observada uma redução de quase uma tonelada de emissões de CO₂ desde o primeiro ano.
Em 2009, o jornal The Guardian chegou a apresentar as “Conversations Carbone” em sua seleção de “Vinte Soluções para Combater as Mudanças Climáticas”.
Podemos pensar também nas ações realizadas pelos jovens ativistas climáticos, muito preocupados com o sentimento de indignação. Em seu estudo, os sociólogos Jochen Kleres e Åsa Wettergren mostram claramente que a indignação é o operador pelo qual o medo e a culpa iniciais se transformam em esperança: o potencial paralisante do medo é superado pela indignação.
Suas colegas Maria Bright e Chris Eames analisaram, em 2022, as greves climáticas de 2019 e chegaram a resultados semelhantes. Para os jovens grevistas do clima, a indignação continua sendo um passo importante na jornada emocional rumo à ação.
Vemos também neste estudo que as emoções e as informações não são independentes umas das outras, e que o fato de estar cada vez mais informado tende a aumentar o sentimento de injustiça, assim como a indignação dos grevistas.
Uma pesquisa australiana recente também destaca que a “experiência da indignação ecológica” prevê um maior envolvimento na ação e nos comportamentos pró-clima do que a eco-ansiedade. O estudo destaca o potencial da indignação como “fator emocional chave do engajamento diante da crise climática”: existe, de fato, uma forte correlação entre a indignação e a ação coletiva.
O estudo conclui que “incentivar a indignação ecológica pode promover mudanças de comportamento favoráveis ao clima, preservando a saúde mental”. Deve-se notar também que, de acordo com a maioria dos estudos aqui citados, o sentimento de injustiça reforça a indignação e, portanto, promove a ação.
Assim, como aponta Gauthier Simon, doutorando em ciência política, em artigo publicado no The Conversation: “As emoções seriam previsões mais confiáveis de ‘conversão ecológica’ do que as variáveis sociológicas clássicas”.
Nós observamos em nosso livro Science et émotion [de autoria de Emmanuel Petit] que isso é ainda mais verdadeiro em um contexto em que a desqualificação das emoções e a oposição entre objetividade e subjetividade são cada vez menos relevantes.
No artigo de Gauthier Simon, o autor se interroga sobre o fato de que as questões originalmente políticas tomam um rumo psíquico. Por outro lado, os exemplos das Conversations Carbone e os ativistas climáticos mostram que as emoções, inclusive a indignação, podem assumir um viés político.
Por fim, a posição de Greta Thunberg, assim como a do jornalista Éric la Blanche, traz à tona todo o potencial de uma “justa indignação”, como já destacou Aristóteles.
Na Ética a Nicômaco, o filósofo explicou que tanto a insuficiência quanto o excesso de indignação são condenáveis, mas que a indignação proporcional, exercida de maneira comedida e justificada, pode levar a comportamentos virtuosos. Em determinados contextos, como o aquecimento global, podemos considerar com Aristóteles que “aqueles que não se indignam” mostram uma “estupidez” excessiva.
Assim, no campo ambiental, a apatia assemelha-se a um vício, cujas consequências nefastas medimos todos os dias.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Diante do aquecimento global, passar da eco-ansiedade à eco-indignação - Instituto Humanitas Unisinos - IHU